O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global deverá atingir os 2,9% este ano e no próximo, uma queda de 0,2 e 0,1 pontos percentuais, respetivamente, face à última previsão publicada em março, segundo um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Por sua vez, a zona euro não viu a sua previsão de crescimento voltar a cair, como em março, com a OCDE a prever um crescimento de 1% do PIB este ano.
O documento acrescenta que a atividade económica dos EUA "vai abrandar significativamente devido ao forte aumento das tarifas".
"Revimos em baixa o crescimento de quase todas as economias do mundo" devido às tarifas, disse o economista-chefe da organização, Álvaro Pereira, numa entrevista à Agência France Presse (AFP).
"O comércio é afetado, particularmente o consumo e o investimento", continuou o economista, numa entrevista concedida na segunda-feira, véspera da publicação do relatório.
A OCDE, que reúne 38 países desenvolvidos, realiza uma reunião ministerial hoje e na quarta-feira, em Paris. À margem desta reunião, estão também agendadas discussões entre negociadores americanos e europeus sobre as tarifas, bem como uma reunião do G7 focada no comércio.
Assim que chegou à Casa Branca, em janeiro, o presidente Donald Trump deu início a uma guerra comercial ao impor tarifas aos seus parceiros.
Esta situação criou um forte clima de incerteza para as empresas, sobretudo devido aos sucessivos avanços e recuos de Trump, como aconteceu na passada sexta-feira quando decidiu de duplicar para 50% a sobretaxa sobre o aço e o alumínio a partir de quarta-feira.
Até então, a atividade económica tinha beneficiado de um efeito Trump que se materializou num aumento do comércio "no final de 2024 e no primeiro trimestre de 2025", segundo a OCDE, devido à vontade das empresas de repor os stocks antes da descida das tarifas.
"No entanto, estão a surgir alguns sinais de que estes resultados estão a deteriorar-se", alerta a OCDE, citando a queda dos preços do transporte de contentores entre Xangai e os Estados Unidos, uma consequência direta do impasse entre Pequim e Washington.
"O efeito dos recentes aumentos das tarifas bilaterais entre os Estados Unidos e os seus parceiros comerciais será provavelmente cada vez mais evidente nos indicadores económicos", continua a organização.
Esta preocupação é ainda maior tendo em conta que "os Estados Unidos constituem um importante mercado de exportação para vários países", explica a instituição sediada em Paris, enumerando: "aproximadamente 75% das exportações de bens do México e do Canadá, 19% do Japão, 13% da China e 10% da Alemanha".
A taxa efetiva das tarifas norte-americanas sobre os bens importados aumentou em maio, segundo a OCDE, de 2% para 15,4%, "o nível mais elevado desde 1938".
A OCDE prevê igualmente que o crescimento dos EUA "desacelerará acentuadamente" e que o principal entrave entre os países mais desenvolvidos estará nos Estados Unidos: o PIB deverá crescer 1,6% em 2025, face aos 2,2% de março. A queda é mais modesta para 2026, com um crescimento estimado de 1,5%, face aos 1,6% previstos em março.
[Notícia atualizada às 09h19]
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