"O Boavista pretende ter uma equipa sénior, estando a ser preparada com critério, dentro dos recursos disponíveis, e com o objetivo de representar com dignidade os valores do clube. O clube está a assumir a responsabilidade de garantir que o futebol sénior continua a existir, independentemente do futuro da SAD. A prioridade é proteger o Boavista e assegurar que o futebol se mantém sob controlo do clube", lê-se na missiva assinada pelo presidente 'axadrezado', Rui Garrido Pereira.
Numa das 43 questões respondidas sobre vários temas da atualidade do clube, o Boavista admite que foi obrigado a intervir e a preparar uma resposta estrutural, devido à incapacidade da SAD para manter o futebol profissional e cumprir os compromissos assumidos, numa altura em que o clube detém 10% do capital social da sociedade liderada pelo senegalês Fary Faye.
"Vamos começar de forma limpa, com as nossas próprias decisões, sem dependências externas e com os nossos valores. Estamos a tentar preparar uma equipa competitiva e organizada, a partir de uma base sólida", direcionou Rui Garrido Pereira, admitindo ter trabalhado "algumas parcerias e colaborações, que serão avaliadas caso a caso e implementadas se forem benéficas para o clube e respeitarem a sua identidade".
O Boavista, que deveria disputar a II Liga de futebol na próxima temporada, falhou a inscrição nas competições profissionais e, mais tarde, também viu negado o licenciamento por parte da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) para participar na Liga 3, terminando hoje o prazo para apresentar recurso junto do Conselho de Justiça (CJ) do organismo.
O incumprimento de pressupostos financeiros determinou essas duas decisões, sendo que, se não for dado provimento ao recurso pelo CJ da FPF, a SAD 'axadrezada' será relegada para os escalões distritais da associação de Futebol do Porto, hierarquicamente abaixo da Liga 3 e do Campeonato de Portugal, terceiro e quarto patamares nacionais, respetivamente.
"A equipa sénior do clube será inscrita na divisão compatível com a sua realidade atual. Estamos em conversações com as várias entidades, no sentido de encontrar uma solução que cumpra os regulamentos desportivos. O importante, neste momento, é que o futebol sénior seja assegurado, com seriedade e ambição para crescer com consistência", frisou.
Despromovido à II Liga em maio, após fechar a edição 2024/25 da I Liga no 18.º e último lugar, com 24 pontos, o Boavista concluiu um trajeto de 11 épocas no escalão principal, sendo um dos cinco campeões nacionais da história, face ao título vencido em 2000/01.
"Embora o Estádio do Bessa se mantenha como principal infraestrutura, a necessidade de complementá-lo com outros espaços que o clube utiliza regularmente continua a ser crítica. Os acordos logísticos estão em muitos casos em curso e em breve poderemos conhecer mais detalhes e ajustar as equipas de acordo com as disponibilidades", explicou.
Revelando ter "manifestações concretas de interesse" na angariação de investidores, Rui Garrido Pereira assegurou que o Boavista tem o futebol de formação como prioridade e quer manter as outras modalidades, num "momento particularmente delicado e decisivo da história do clube", que tem "uma nova oportunidade para o seu verdadeiro ressurgimento".
"O projeto do futebol profissional falhou para grande desilusão de todos nós, mas não foi certamente por responsabilidade do clube. Esta direção procurou sempre garantir todas as condições necessárias para que pudesse haver sucesso, mesmo tendo sido colocada à margem de muitas decisões. Chegou o momento de virar a página. Durante os últimos 24 anos, vivemos o tempo da SAD, numa altura em que o clube investiu tudo em nome do futebol profissional, aceitando, muitas vezes, um papel secundário", sustentou.
A recuperação do peso institucional do clube junto das entidades oficiais, o controlo da situação financeira e a promoção das modalidades do clube e da sua formação nortearam o trabalho da direção de Rui Garrido Pereira, que foi eleita em janeiro, "num dos períodos mais difíceis da história" do Boavista, volvidos os seis anos de mandato de Vítor Murta.
"Reconhecemos que nem tudo correu como desejávamos e sabemos que há muito por fazer. O mandato que assumimos não é de seis meses, mas de três anos, e o caminho faz-se passo a passo. Admitimos que a comunicação tem sido uma das áreas em que falhámos - por condicionamentos externos, por tentarmos proteger o futebol profissional ou, assumidamente, por responsabilidade nossa", terminou.
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