O caso caiu que nem uma bomba em Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel, e não só. Quatro funcionárias da Centro de Apoio à Criança n.º 1, valência da Casa do Povo da vila açoriana estão a ser investigadas, pelo Ministério Público (MP), por alegados maus-tratos a bebés e crianças, com idades compreendidas entre um ano e meio e três anos.
A denúncia partiu da própria instituição, depois de ter recebido várias queixas por parte de diferentes famílias.
Segundo o que o Notícias ao Minuto conseguiu apurar, há cerca de um mês, o responsável pela Casa do Povo decidiu instalar câmaras de videovigilância no local, para perceber se os relatos tinham fundamento.
As imagens acabaram por confirmar o que há vários anos era, segundo o que algumas testemunhas garantiram ao Notícias ao Minuto, "abafado", muitas vezes devido às ameaças verbais e físicas que as alegadas agressoras faziam às colegas que viam o que acontecia.
"Já passaram 6 a 7 anos, o meu menino chorava imenso quando o deixava de manhã na creche, assim que via a 'M' era como ver o demónio, assisti a algumas situações, outras ele próprio contou depois de sair da creche e ir para a 'pré'. Ainda me queixei aos responsáveis [da altura], mas disseram-me ser impossível e agora é isso... temos esta notícia", revelou a mãe de um ex-aluno.
Questionada sobre as agressões das quais o filho terá sido alvo, a mesma descreveu um cenário de horror: "Ela punha fita adesiva na boca do meu filho para ele não chorar, quando estava a fazer o desfralde, se fizesse chichi no colchão ela levava-o do quente da cama para água gelada e, muitas vezes, deixava-o sozinho a chorar em cima do muda fraldas", garantiu.
Tal como esta mulher, que falou com o Notícias ao Minuto sob anonimato, nas redes sociais são vários os pais de ex-alunos da creche em questão, que confessam que os filhos tinham dado alguns sinais suspeitos, no entanto, os responsáveis sempre "desvalorizaram".
Até agora. Carlos Estrela, o atual presidente da Casa do Povo, decidiu, de uma forma "discreta", perceber o que realmente se passava entre as quatro paredes da creche desta instituição.
O Notícias ao Minuto entrou em contacto com o responsável, que explicou não poder prestar declarações, devido ao facto do caso estar, como confirmou ontem a Procuradoria Geral da República (PGR), "sujeito a segredo de justiça".
Pais visionaram imagens e o que viram foi chocante
De acordo com a Antena 1 Açores, os pais dos bebés e crianças agora, alegadamente, agredidas, tiveram conhecimento da situação, na quinta-feira, através do visionamento das imagens recolhidas na creche.
Nas redes sociais os relatos são chocantes. Uma das mães revelou o que viu: "Sou mãe de uma das vítimas e o meu filho ainda nem três anos tem. Vimos os vídeos e ficamos todos de rastos. Sem chão. O meu querido filho a ser puxado pelos cabelos para comer, apertavam o nariz para ele comer. Uma menina comeu o seu próprio vomitado. Vi meninas a serem machucadas na cara, principalmente, uma menina com autismo [...]. Até comida que caiu no chão foi posta na boca da criança. As colheres foram colocadas com brutalidade na boca das crianças e as imagens comprovam-no e isso foi apenas no que vimos. Acredito que haja muito mais. Não havia câmaras na casa de banho, nem no dormitório", narra a mulher, no comentário a uma publicação feita num grupo que Facebook, que divulga a foto das quatro auxiliares de educação na instituição, ao abrigo de um protocolo com o Instituto de Segurança Social dos Açores.
Os pais exigem agora Justiça. Preparam uma manifestação junto à creche e lançaram uma petição pública pela "suspensão imediata das funcionárias envolvidas em maus-tratos a bebés em creche da Casa do Povo de Rabo de Peixe", uma vez que, apesar da gravidade das alegações, segundo o Açoriano Oriental, "o tribunal ordenou a reintegração das acusadas, sob vigilância, enquanto não há decisão instrutória". Ou seja, as auxiliares foram colocadas noutra creche da instituição.
E isto, apesar de estarem também "obrigadas a frequentar cursos, promovidos pela Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, destinados a agressores".
Quem está também contra esta decisão, de acordo com o mesmo jornal, é a direção da instituição, que considera que os direitos das crianças não estão a ser tidos em conta.
O caso está agora entregue ao MP, que instaurou um inquérito para apurar o que realmente aconteceu no Centro de Apoio à Criança n.º 1, valência da Casa do Povo.
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