Após uma declaração em que homenageou os 168 trabalhadores das Nações Unidas mortos em 2024 - a maioria (126) em Gaza -, Guterres foi questionado por jornalistas sobre se se sente desiludido pelo veto norte-americano.
"Claro. Como disse, ficamos sempre desiludidos quando os cessar-fogos não se concretizam, as libertações de reféns não acontecem e a ajuda humanitária não é distribuída ou é distribuída de uma forma que põe em risco a vida de tantos palestinianos", afirmou o líder da ONU.
A resolução em causa, da autoria dos 10 membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU, recebeu 14 votos a favor e apenas o veto dos EUA, que, como membro permanente, tem o poder de impedir este órgão da ONU de atuar.
O projeto rejeitado exigia um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente em Gaza; a libertação imediata, digna e incondicional de todos os reféns retidos pelo grupo islamita palestiniano Hamas; e o levantamento imediato e incondicional de todas as restrições à entrada de ajuda humanitária no território.
Foi a quinta vez que os EUA vetaram um projeto de resolução sobre a guerra entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas desde o início do atual conflito, em 07 de outubro de 2023.
"A oposição dos EUA a esta resolução não deve ser surpresa. É inaceitável pelo que diz. É inaceitável pelo que não diz. E é inaceitável pela maneira como foi apresentada. Os EUA foram claros: não apoiaríamos nenhuma medida que não condenasse o Hamas e não exigisse que o Hamas se desarmasse e deixasse Gaza", justificou a embaixadora interina norte-americana, Dorothy Shea.
Face ao veto de Washington, Guterres garantiu que as Nações Unidas farão "tudo o que puderem" para aliviar a situação no enclave, mas salientou que a eficácia depende diretamente de um cessar-fogo permanente, da libertação de todos os reféns e do acesso ilimitado à ajuda humanitária.
Guterres, que criticou hoje a "impunidade total" em torno das mortes dos trabalhadores da ONU, afirmou que "o facto de as divisões geopolíticas manterem o Conselho de Segurança paralisado" em situações como esta, "faz com que a impunidade se mantenha", gerando "uma enorme frustração para todos aqueles que acreditam no direito internacional".
Ainda em resposta aos jornalistas, na sede da ONU, em Nova Iorque, o secretário-geral abordou a Conferência Internacional para a Solução dos Dois Estados no Médio Oriente, agendada para este mês, advogando que não há alternativa a essa solução - um Estado israelita e um Estado palestiniano.
"A minha mensagem aos líderes mundiais e às delegações é que é absolutamente essencial manter viva a perspectiva da solução de dois Estados, apesar de todas as coisas terríveis a que estamos a assistir em Gaza e na Cisjordânia", disse.
"E para aqueles que duvidam da solução de dois Estados, pergunto: qual é a alternativa? É uma solução de um Estado em que os palestinianos serão expulsos ou obrigados a viver nas suas terras sem direitos? Isso seria totalmente inaceitável. Acredito firmemente que é dever da comunidade internacional manter viva a solução de dois Estados e depois materializar as condições para que isso aconteça", concluiu.
Em causa está a Conferência Internacional para a Solução dos Dois Estados no Médio Oriente (Israel e Palestina), a decorrer entre 17 e 20 de junho na sede da ONU, em Nova Iorque, que será copresidida pela França e pela Arábia Saudita e na qual o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel, participará.
O futuro do movimento extremista Hamas em Gaza e o reconhecimento do Estado palestiniano serão os principais eixos da conferência.
França, por exemplo, deu a entender nas últimas semanas que considera tomar a iniciativa de reconhecer o Estado palestiniano --- atualmente reconhecido por 140 dos 193 países do mundo com assento na ONU --- e acredita-se que a conferência possa ser o lugar onde esse passo será formalizado.
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