Uma equipa de cientistas, incluindo dois portugueses, identificou uma molécula de açúcar na urina de doentes com cancro da bexiga que pode vir a servir para detetar de forma rápida e simples a doença na sua manifestação mais grave.
"Com a nossa descoberta, duas gotas de urina podem ser suficientes para detetar o cancro da bexiga sem exames invasivos, uma alternativa mais cómoda, rápida e acessível", disse à Lusa a investigadora Inês Moreira, primeira autora do trabalho publicado na revista científica Cell Reports Medicine e doutoranda no Instituto de Bioquímica Clínica da Faculdade de Medicina de Hannover, na Alemanha.
A deteção do açúcar 'nLc4', assim se chama, numa análise à urina apenas será útil para identificar de forma rápida os casos em que o tumor "já invadiu o músculo à volta da bexiga".
"O nLc4 está sobretudo associado à forma músculo-invasiva da doença, que é a mais grave. Isso torna-o particularmente relevante, porque identificar estes casos de forma rápida pode fazer uma grande diferença no tratamento e na evolução da doença", explicou Inês Moreira.
Atualmente, o diagnóstico é feito, acima de tudo, através de cistoscopia, um exame endoscópico da bexiga que "pode ser desconfortável e exige recursos hospitalares".
"O cancro da bexiga pode ser uma doença muito agressiva, sobretudo quando atinge os estádios mais avançados. Nestes casos, o risco de progressão e disseminação é elevado. Por isso, é essencial detetar o tumor o mais cedo possível", justificou a investigadora.
O estudo foi conduzido na Alemanha por uma equipa de investigadores de várias universidades, que integrou também o português Manuel Vicente, colega de Inês Moreira na mesma instituição, e incluiu doentes em estádios iniciais e avançados de cancro da bexiga.
"O que permitiu perceber que o nível de nLc4 aumenta com a progressão da doença", adiantou Inês Moreira, realçando que "este açúcar encontra-se à superfície das células tumorais e é libertado por elas, podendo assim ser detetado na urina".
A concentração deste açúcar na urina é particularmente elevada quando o tumor já atingiu o músculo em redor da bexiga.
No laboratório, a equipa de cientistas analisou amostras de tecido (biópsias) e urina de doentes com cancro da bexiga, comparando-as com amostras de pessoas sem a doença, tendo identificado e medido os níveis de diferentes moléculas de açúcar.
"O objetivo era perceber quais estavam mais presentes nos doentes. Foi assim que o nLc4 se destacou como um forte candidato", sublinhou Inês Moreira.
A equipa espera no futuro validar os resultados do estudo numa amostra maior de doentes - a investigação partiu da análise da urina de 16 doentes com cancro da bexiga - para confirmar a utilidade desta molécula de açúcar no diagnóstico da doença, e depois desenvolver um teste de urina que "permita detetar rapidamente os casos mais graves e apoiar os médicos na escolha do tratamento mais adequado".
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