Este domingo, 1 de junho, assinala-se o Dia Mundial da Criança. No âmbito desta efeméride, o Lifestyle ao Minuto esteve à conversa com o professor Jorge Rio Cardoso, que acaba de lançar o livro 'Mais IA, Melhor Educação'.
Nesta obra, o autor revela como esta ferramenta tecnológica, cada vez mais presente no nosso dia a dia, pode ser uma aliada do estudo e não uma ameaça.
Disponível nas livrarias desde o dia 6 de maio, o livro "é um guia essencial para pais, alunos e professores" e apresenta "uma lista dos 150 melhores programas de inteligência artificial, práticas éticas e seguras para que a tecnologia complemente - e não substitua - a interação humana".
O que o motivou a escrever a obra 'Mais IA, Melhor Educação'?
A motivação para escrever o livro decorre da perceção de que a Inteligência Artificial (IA) já está a transformar profundamente a educação, mas que muitos professores, alunos e pais ainda não têm consciência plena do seu potencial. Pretendi contribuir para a sensibilização sobre o uso ético, inteligente e humanista da IA no ensino, garantindo que seja uma aliada e não uma ameaça ao processo educativo.
O livro é editado pela Guerra e Paz e custa 17€© Jorge Rio Cardoso
O professor descreve este livro como um guia. De que maneira procura ajudar os pais, alunos e professores?
O livro funciona como um guia ao identificar, de forma prática, como é que a IA pode ser aplicada nas diferentes etapas do processo educativo. Para os alunos, apresenta ferramentas de estudo e de autorregulação. Para os professores, demonstra como a IA pode reduzir a burocracia, personalizar o ensino e melhorar a avaliação. Para os pais, esclarece os benefícios e os cuidados a ter com a integração da IA na aprendizagem dos filhos.
Enquanto professor, tem procurado inserir a IA nas suas aulas? Se sim, de que forma os seus alunos se adaptaram/receberam essa inovação?
Sim, como o livro demonstra, estou profundamente envolvido na experimentação da IA em contexto educativo. As reações dos alunos são positivas, especialmente quando se utiliza a IA para personalizar aprendizagens, criar projetos criativos ou mesmo como tutores virtuais disponíveis 24h para esclarecer dúvidas.
© Jorge Rio Cardoso
Afirma que a educação é das áreas em que a IA tem maior potencial de progresso. Porquê?
Porque a educação enfrenta desafios complexos e antigos, como o insucesso e o abandono escolar, que podem ser atenuados com ferramentas de IA. Esta tecnologia permite identificar as dificuldades específicas de cada aluno, adaptar conteúdos ao seu estilo de aprendizagem e melhorar a motivação, criatividade e responsabilidade, elementos fundamentais para o sucesso escolar.
A IA ajuda a reforçar competências como concentração, autonomia, resiliência e criatividade, elementos considerados essenciais para vencer os obstáculos à aprendizagem
De que forma é que a IA pode promover o sucesso escolar?
A IA pode melhorar o sucesso escolar através da personalização do ensino, do feedback contínuo, da criação de materiais adaptados e da monitorização das aprendizagens. Ajuda ainda a reforçar competências como concentração, autonomia, resiliência e criatividade, elementos considerados essenciais para vencer os obstáculos à aprendizagem.
75% dos docentes consideram que os professores não estão preparados para trabalhar com IA
Sente relutância da parte dos professores em inserir a IA no sistema de ensino? Se sim, por que acha que isso acontece?
Sim, sente-se ainda alguma relutância por parte de muitos professores. Isso deve-se, sobretudo, à falta de formação específica, à perceção de que a IA poderá substituir o seu papel, e ao receio de perda da dimensão humana da educação. Um inquérito citado no livro revela que 75% dos docentes consideram que os professores não estão preparados para trabalhar com IA. Defendo, por isso, a necessidade urgente de um plano de formação docente com foco nas aprendizagens, e no uso ético e pedagógico da IA.
Quais os benefícios da IA na educação, tanto para os alunos como para os professores?
Para os alunos, os principais benefícios incluem, de forma sintética:
- Personalização das aprendizagens;
- Maior motivação e autonomia;
- Feedback contínuo e adaptativo;
- Suporte no desenvolvimento da criatividade, concentração e pensamento crítico.
Por sua vez, para os professores, a IA oferece:
- Criação de materiais pedagógicos adaptados;
- Redução de carga burocrática;
- Melhoria da didática e apoio à avaliação;
- Ferramentas para acompanhamento individualizado dos alunos.
Por outro lado, quais são as principais desvantagens do uso da IA na educação?
As principais desvantagens apontadas são, em síntese, as seguintes:
- Perda do esforço cognitivo, curiosidade e desejo de aprender, devido à 'facilidade' da resposta imediata da IA;
- Redução da diversidade cultural e de pensamento, devido ao viés dos algoritmos;
- Dependência tecnológica acrítica;
- Dificuldade em distinguir conteúdos gerados por IA, o que compromete a avaliação justa das aprendizagens;
- Riscos éticos, de privacidade e proteção de dados.
Os alunos podem copiar respostas sem compreensão, comprometendo o pensamento crítico e o desenvolvimento de competências
O uso de ferramentas como o ChatGPT tem sido recorrente para trabalhos escolares. Considera que isso pode acarretar riscos na aprendizagem?
Sim. Aliás, no livro, alerto para isso. A IA, se usada de forma acrítica, pode levar à ilusão de conhecimento, sem aprendizagem real. Os alunos podem copiar respostas sem compreensão, comprometendo o pensamento crítico e o desenvolvimento de competências. Também não há ferramentas eficazes para detetar com rigor a origem dos textos, dificultando o controlo por parte dos professores.
Quais são os principais erros cometidos por alunos e professores ao utilizarem estas ferramentas?
No caso dos alunos, é o de usar a IA para obter respostas prontas sem compreender os conteúdos; confiam cegamente nas informações fornecidas e deixam de desenvolver autonomia e espírito crítico.
Em relação aos professores é verem a IA como uma ameaça, e não como aliada; há ainda o problema de não adequarem a avaliação ao novo contexto e o de desvalorizarem a formação necessária para tirar real partido da tecnologia.
Para que a IA seja bem utilizada, o que considera necessário regulamentar antes de a introduzir nas escolas?
O livro aponta várias áreas a regulamentar. Indico cinco:
- Definir uma idade mínima para o uso da IA (por exemplo, 13 anos, como recomenda a UNESCO);
- Assegurar a proteção de dados, privacidade e dignidade dos alunos;
- Garantir formação obrigatória para professores;
- Estabelecer políticas públicas que evitem assimetrias no acesso;
- Criar um plano estratégico de integração curricular com princípios éticos e humanistas.
A IA deve apoiar, personalizar e tornar mais eficiente o ensino, mas sem anular a presença humana, a relação afetiva e a mediação do professor
Como é que se encontra um equilíbrio entre o ensino escolar com IA e o tradicional?
O equilíbrio passa por usar a IA como ferramenta complementar, nunca como substituta. A IA deve apoiar, personalizar e tornar mais eficiente o ensino, mas sem anular a presença humana, a relação afetiva e a mediação do professor. A chave está na integração equilibrada entre inovação tecnológica e os princípios pedagógicos clássicos.
De que maneira é que a IA pode complementar a interação humana sem a substituir?
A IA pode apoiar o processo de ensino-aprendizagem com dados, sugestões, feedback e acompanhamento, mas não possui empatia, afetividade ou inspiração. É por isso que no livro insisto que o professor continua a ser insubstituível, devendo usar a IA como uma aliada no desenvolvimento integral dos alunos.
Afirma que a IA pode tornar o estudo mais inteligente, personalizado e divertido. Como?
A IA torna o estudo mais inteligente, ao adaptar-se ao ritmo e estilo de cada aluno, pois é mais personalizado ao identificar necessidades específicas e propor materiais ajustados. Por outro lado, é também mais divertido, através de jogos, quizzes, simulações, vídeos interativos e outras ferramentas que aumentam o envolvimento e a curiosidade dos estudantes.
É necessária uma mudança cultural profunda, formação adequada e políticas públicas consistentes para garantir que a tecnologia seja usada de forma ética e eficaz
De que forma acredita que a IA irá mudar o futuro do sistema de ensino português?
Acredito que a IA poderá transformar o ensino português, reduzindo o insucesso escolar, promovendo uma aprendizagem mais ativa, inclusiva e significativa, e tornando os métodos de ensino mais inovadores e centrados no aluno. No entanto, isso exigirá uma mudança cultural profunda, formação adequada e políticas públicas consistentes para garantir que a tecnologia seja usada de forma ética e eficaz.
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