Editora Laika nasce para preencher lacunas no mercado literário português

"Queremos editar particularmente literatura que nos tenha apaixonado ao longo dos anos e que continua sem estar publicada no país", disse Rodrigues Neves, um dos responsáveis.

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Lusa
10/07/2025 10:44 ‧ ontem por Lusa

Cultura

Laika Edições

A Laika Edições é uma nova editora independente, com sede em Castelo Branco, criada para colmatar "uma certa escassez" literária em Portugal, que acaba de lançar os dois primeiros títulos, com uma aposta em autores inéditos e edições cuidadas.

 

Com uma equipa reduzida - composta por duas pessoas, sem ligação prévia ao meio editorial -, a Laika, uma editora independente e generalista, pretende publicar principalmente romance, poesia e contos, com uma linha editorial orientada por critérios afetivos e literários.

"Queremos editar particularmente literatura que nos tenha apaixonado ao longo dos anos e que continua sem estar publicada no país", disse à Lusa Rodrigues Neves, um dos responsáveis, em entrevista por escrito.

A Laika nasceu de uma "certa escassez" que os dois editores sentem enquanto leitores, que os obriga a ler literatura noutras línguas, muitas vezes importada, porque muita da literatura que procuram, ou não tem espaço no mercado português ou é editada por editoras independentes, com um alcance limitado, explicou.

"O caso de Micheliny Verunschk talvez seja o mais gritante, que é amplamente premiada e reconhecida no Brasil, já traduzida para outras línguas, mas até então inédita em Portugal (e com um livro cuja urgência é tão pertinente em Portugal especificamente, apesar da sua universalidade). Foi dessa falta que surgiu a ideia de começarmos a editar", acrescentou.

Este é um dos dois primeiros títulos da editora que começaram esta semana a chegar às livrarias: "O som do rugido da onça", de escritora brasileira Micheliny Verunschk, romance vencedor do Prémio Jabuti em 2022, e a obra poética "Alecrim Recém Cortado", do espanhol Juan Carlos Panduro.

"O som do rugido da onça", cuja capa é ilustrada por Joana Estrela, é "um romance corajoso e repleto de lirismo", que pensa o colonialismo e a memória a partir da história de duas crianças indígenas raptadas no século XIX, entrelaçando-a com a de uma jovem no Brasil contemporâneo, revela a editora.

"Alecrim recém cortado", que tem tradução de Ana Filipa Pires e capa do 'designer' Diogo Potes, é um conjunto de poemas jovens, 'queer', fortemente marcados pelo universo folclórico, rural e popular da Extremadura, região fronteiriça com Portugal.

Para os próximos meses, a Laika prepara o lançamento de romances de Pol Guasch (em tradução do catalão), contos de Prabda Yoon (traduzidos do tailandês) e poesia de Patrizia Cavalli e Richard Siken, além de um novo livro de Micheliny Verunschk.

"Estamos particularmente atentos a uma realidade ibero-americana, principalmente na poesia, e prevemos ter mais novidades nesse sentido em breve, para além de estarmos a analisar alguns originais. Por enquanto, todos os nossos autores são inéditos em Portugal, salvo algumas traduções publicadas em coletâneas ou revistas, apesar de não ter sido um critério preestabelecido, e esperamos publicar entre seis a dez títulos" por ano, adiantou.

A preocupação estética e gráfica das edições é assumida como uma das prioridades da nova chancela, que sublinha a importância de uma abordagem visual que seja mais do que uma "imagem comercial", funcionando antes como uma extensão simbólica e sensível do conteúdo literário.

No caso da Joana Estrela, por exemplo, era importante que a capa "transmitisse um certo cariz infantil, naïf, mas provocante e forte ao mesmo tempo", esclarece Rodrigo Neves.

"A autora [Micheliny Verunschk] menciona que o título foi-lhe dado espontaneamente pelo filho, ainda criança, e queríamos uma capa que mostrasse uma onça aos olhos de uma criança, o que também é relevante para as personagens do livro. A Joana é a melhor que conhecemos nesse âmbito e estamos incrivelmente orgulhosos com a capa que publicámos", sublinhou.

Quanto à escolha de Diogo Potes, os responsáveis queriam uma capa "que tornasse explícito o aspeto mais 'kitsch' e garrido destes poemas, com elementos simples e fortes que sejam permanentes nos poemas e no seu imaginário, e o Diogo soube automaticamente ler os poemas e traduzi-los numa identidade visual que os apresenta perfeitamente".

"Continuaremos a trabalhar com artistas, conceituados e emergentes, para as nossas capas, que pretendemos que sejam uma das nossas imagens de marca e que os leitores as possam entender como uma apresentação visual fiel do que podem encontrar nos textos que publicamos", afiança o editor.

Idealizada inicialmente em Lisboa, a editora acabou por se fixar em Castelo Branco, uma decisão motivada por fatores pessoais -- principalmente a crise habitacional - e pela possibilidade de conciliar o projeto com outras atividades profissionais.

Mas esta mudança de cidade representa também uma aposta na descentralização do circuito literário, habitualmente concentrado nos grandes centros urbanos, sublinha.

Os dois editores desenvolvem o seu trabalho em parceria com diferentes pessoas que ajudam a que "os livros ganhem vida", como tradutores, revisores e ilustradores, e mantêm-se "especialmente atentos ao que se faz num circuito mais independente, tanto em editoras como nas livrarias".

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