A Iniciativa Liberal elegeu, no sábado, a candidata única à liderança Mariana Leitão numa convenção marcada pela disponibilidade de Cotrim Figueiredo em candidatar-se às presidenciais, pedidos de maior atenção às "bandeiras sociais" e críticas à estratégia autárquica de coligações.
Eleita com 73% dos votos e 27% de abstenção, a quinta presidente do partido e a primeira mulher a ocupar o cargo, Mariana Leitão pediu que o partido deixe as disputas internas e vire a força "para fora", depois de subir ao palco ao som de "Enter Sandman", dos Metallica.
No primeiro discurso depois da eleição, Mariana Leitão acusou também o primeiro-ministro, Luís Montenegro, de apresentar medidas que "parecem tiradas diretamente do caderno de encargos do PS".
"Subsídios, cheques disto e daquilo, promessas vagas de investimento público, tudo menos reformas estruturais, tudo menos coragem política", acusou, considerando que "trata-se de uma cópia do modelo que já era seguido por António Costa".
Na primeira intervenção perante a convenção, de manhã, para apresentar a sua moção de estratégia global assumiu um combate ao Chega, que vê como "um novo socialismo à direita".
"Hoje, o imobilismo começa a mudar de sinal. A direita do caos já começa a esconder-se atrás da responsabilidade para deixar tudo na mesma. Não tenhamos dúvidas: o Chega não é mais do que um novo socialismo à direita. Não defendem a nossa soberania enquanto indivíduos. Não defendem qualquer reforma para Portugal. São coletivistas, estatistas, e paternalistas", defendeu.
Ainda nessa intervenção, Mariana Leitão prometeu uma IL "mais ideológica" e até "mais radical" e horas depois o ex-líder João Cotrim Figueiredo dizia preferir um partido menos ideológico e que apostasse mais em encontrar soluções para os problemas das pessoas.
A disponibilidade sugerida por Cotrim de Figueiredo para uma candidatura à Presidência da República na sua intervenção perante a Convenção, e depois confirmada em declarações aos jornalistas, marcou os trabalhos da reunião magna liberal.
"Eu não tomei a decisão de me candidatar. Tomei a decisão de estar disponível e agora há contactos que se tornam possíveis de fazer, que até aqui não eram possíveis, e que me vão permitir chegar a uma decisão final em breve", respondeu o também líder da IL entre 2019 e 2023.
Cotrim Figueiredo também pontuou a despedida da liderança do partido de Rui Rocha, que na sua última intervenção enquanto presidente dos liberais disse que a sua demissão foi uma "decisão política" e não pessoal, afirmando ainda que as críticas que "vozes relevantes" do partido fizeram sobre os resultados eleitorais foram "absolutamente irrelevantes nessa tomada de decisão".
Num partido em que dominam as intervenções masculinas, foi aprovada por larga maioria uma moção a defender um feminismo de pendor liberal, assim como a moção muito crítica do rumo da IL apresentada por Filipe Mendonça, que considerou que o partido "abandonou o centro para se acantonar à direita, onde pensou que teria poder".
"Trocámos a força das nossas convicções por ministérios imaginários. O resultado está à vista", disse, criticando igualmente que na moção de Mariana Leitão em 56 páginas, encontrou "meia página sobre o país das liberdades" e um "apagão total nas bandeiras sociais".
No total, houve 18 moções apresentadas e debatidas, e só uma foi chumbada, que considerava que o partido tem dado "atenção insuficiente" à defesa das liberdades individuais, pedindo que rejeite conceitos como "ideologia de género" ou "movimento 'woke'" e que defenda "todas as minorias, incluindo LGBTQIA+".
Sandra Lobo Pimentel, na defesa dessa moção, acusou o partido de "deixar miúdos sozinhos" perante o ódio, de abandonar as marchas em que já participou e até apontou que em convenções anteriores havia 'merchandising' do partido à venda com as cores da bandeira arco-íris, o que atualmente não existe.
Uma crítica reiterada por diversos congressistas ao longo dos trabalhos foi a opção por uma estratégia de coligações para as eleições autárquicas de 12 de Outubro, nomeadamente entendimentos para integrar listas lideradas pelo PSD.
Nas moções setoriais, os liberais aprovaram ainda a moção "Nacionalidade com responsabilidade - integrar com regras, não adiar com medo", que pede ao partido que rejeite o alargamento do prazo de residência para a obtenção de nacionalidade para os 10 anos, tal como é defendido pelo Governo.
O deputado e vice-presidente da Assembleia da República Rodrigo Saraiva foi o proponente de uma moção intitulada "A política externa enquanto farol da liberdade", que foi aprovada por ampla maioria, rejeitando uma gestão de "conveniência ou mero protocolo" da diplomacia na apresentação.
"Não basta falar de liberdade em Lisboa se fechamos os olhos ao que se passa em Tbilisi, em Cabul, em Havana, ou em Gaza", declarou.
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