Num discurso na X Convenção da IL, em Alcobaça, Rui Malheiro, que obteve 26,6% dos votos na última convenção do partido, em fevereiro, optou por não fazer críticas internas, mas focar-se nas próximas eleições autárquicas, considerando que será uma oportunidade para mostrar aos portugueses "o poder e a força" das ideias liberais.
"O nosso foco deverá ser sempre derrotar toda e qualquer força estatizante, no compromisso com a liberdade. Desde a nossa fundação que o nosso grande partido tem-se batido e demonstrado que o socialismo estatizante de todos os partidos do arco de governação tem de cair de vez", afirmou.
Para Rui Malheiro, a "luta do socialismo não é a melhoria da qualidade de vida nem da promoção do elevador social", mas antes o "empobrecimento generalizado, criando uma dependência do Estado pai".
"As nossas bandeiras são exatamente as opostas: é para que todos tenham liberdade política, social e económica", disse, antes de salientar que, para os liberais, o que importa são as ideias e não as pessoas.
"Aqui estamos nós hoje -- não tantos como gostaríamos, é certo -- para demonstrar que este partido é diferente e que não depende exclusivamente de líderes. O que nos importa verdadeiramente são as ideias liberais, que levamos aos nossos concidadãos, para que possam prosperar em liberdade", referiu.
Rui Malheiro considerou que este momento "continua a ser o momento de combate a todos os tipos de socialismo, seja ele mais rosa, mais laranja, mais vermelho, mais verde, mais populista ou menos demagógico", antes de deixar um apelo à união.
"Para cumprir este desígnio, nunca se esqueçam, todos somos poucos. Devemos contar sempre com todos, mesmo com aqueles com os quais temos discordâncias em determinados temas. Porque é realmente a liberdade que nos une", referiu, dirigindo-se a Mariana Leitão para lhe garantir que a sua direção pode contar com ele para o que necessitar.
Apesar deste apelo de Rui Malheiro, que encabeçou a oposição interna a Rui Rocha na última convenção, voltaram a ouvir-se algumas críticas à direção durante os discursos ao início da tarde, com o membro Filipe Mendonça a considerar que o partido está "desmobilizado cá dentro e sem peso político lá fora".
"Isto aconteceu porque a IL abandonou o centro onde nasceu. Abandonou o centro para se acantonar à direita, onde pensou que teria poder. Trocámos a força das nossas convicções por ministérios imaginários. O resultado está à vista", disse.
Filipe Mendonça considerou que, quando o país defendeu os seus ideais, passou de "zero para oito deputados", mas, quando tentou "ser uma imitação de qualquer coisa populista e conservadora", estagnou.
"O sonho inicial era o de um partido no meio do hemiciclo, ao centro da política. Um partido a caminhar pelo seu pé, sem ser muleta de ninguém. Nesse sonho inicial, este partido defendia a reforma do Estado com a mesma energia que combatia quem quer destruir as democracias liberais", disse, salientando que, para o partido, "uma vida na Venezuela ou na Ucrânia valia o mesmo do que na Faixa de Gaza".
Depois, dirigindo-se a Mariana Leitão, Filipe Mendonça disse que, quando leu a sua moção de estratégia global, procurou "sinais de mudança" e "um regresso ao sonho inicial", mas só encontrou, em "56 páginas, meia página sobre o país das liberdades" e um "apagão total nas bandeiras sociais".
"A IL afasta-se da sua história, do país e da vida real daqueles que viram neste partido uma lufada de ar fresco, irreverente e tão incómoda quando dizíamos que não éramos nem de esquerda nem de direita. É desta IL que vou sentir saudades e penso que o país também", disse.
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