O namorado de Francisca Maria Souza dos Santos, de 44 anos, desaparecida em Tabuaço, distrito de Viseu, há mais de um mês terá mentido não só a ela como à família da brasileira, tal como o irmão, António Santos, já tinha sugerido ontem, em várias entrevistas dadas às televisões nacionais.
O Correio da Manhã (CM) avança, esta quarta-feira, 23 de julho, que Luís Jesus não só vive com uma mulher há mais de 15 anos – algo que terá escondido de Francisca – como não é médico cirurgião na CUF de Lisboa, ao contrário do que sempre tinha dito à imigrante brasileira.
O português trabalha sim, segundo o matutino, como cantoneiro no concelho de Loures e é sapador florestal na mesma autarquia.
Luís e Francisca ter-se-ão conhecido na aplicação de encontros Badoo, muito usada pela comunidade brasileira. Não se sabe há quanto tempo namoravam, mas ambos falavam, frequentemente, com a família da cozinheira desaparecida. No entanto, ao que tudo indica, a relação estava assente em mentiras.
Ao longo dos dias, foram surgindo vários detalhes que adensam o mistério em torno do desaparecimento de Francisca. Além das mentiras de Luís, sabe-se agora que o cartão da conta bancária onde a imigrante recebia o ordenado desapareceu e que foram apagados do seu computador vários ficheiros assim como e-mails.
Carta suspeita e bilhete na bíblia
Há ainda um bilhete, deixado na bíblia, e uma carta suspeita. "Tenho um casamento com Luís Jesus, a quem amo muito e estou muito feliz e grata", lia-se na nota escrita, alegadamente, por Franscisca e encontrada na bíblia pelo irmão desta, na casa arendada à brasileira, em Tabuaço.
Já Ismael Tomé, o senhorio de Francisca, revelou, em entrevista à SIC Notícias, que encontraram na mesma residência uma carta, na qual Francisca falava em "desilusão". Junto a ela estava também uma aliança. Sinais que deram ao arrendatário a sensação de que a brasileira se tinha zangado com o namorado.
Namorado de "consciência tranquila"
Apesar de todas as mentiras e de não querer falar nem com a comunicação social nem como o irmão de Francisca, que está em Portugal à procura da familiar, Luís de Jesus enviou vários áudios à mãe da desaparecida.
No entanto, na opinião de António Santos, foi apenas para saber mais sobre ex-relacionamentos de Francisca e sobre o estado da investigação do desaparecimento.
"Boa tarde, Senhora Conceição [mãe de Francisca], eu estive ausente durante este tempo, depois eu conto-lhe tudo o que é que se está aqui a passar comigo. Sabe alguma coisa da Nené? É que eu não sei nada. A polícia apanhou-me à saída do hospital, levou-me, ficou com o meu telefone, ficou com tudo o que era meu. A senhora sabe alguma coisa da Francisca? Diga-me qualquer coisa, por favor. Eles ficaram com o meu telefone, tive que comprar um telefone novo e um chip novo. A Polícia Judiciária ficou-me com tudo. Sabe algumas novidades Senhora Conceição?", ouve-se num dos áudios enviados pelo homem à mãe da namorada, três semanas após o desaparecimento desta.
Já noutro áudio, Luís garantiu que estava de "consciência tranquila". "Não tenho nada a ver com o desaparecimento da Nené, por isso, colaborei com a Justiça. Acredito na polícia portuguesa", assegurou.
Porão suspeito? Cárcere privado?
Entretanto, em entrevista ao programa Linha Aberta, da SIC, o irmão de Francisca, António Santos, levantou ainda mais suspeitas do envolvimento de Luís Jesus no desaparecimento da cozinheira.
"Há denúncias de vizinhos, de pessoas que já tiveram relações com ele, que foram enganadas. Façam buscas no terreno dele. Existe um porão dentro dessa casa [do namorado de Francisca]", assegurou.
A António terá chegado mesmo uma denúncia de que Luís Jesus já tinha, inclusive mantido a irmã "em cárcere privado, dentro desse porão".
O irmão de Francisca critica ainda a atuação das autoridades portuguesas, inclusive da Polícia Judiciária (PJ). "Ninguém me chamou para me interrogar, nem sei se essa investigação está a realmente a ser feita, não temos provas de que o desaparecimento está sequer a ser investigado", atirou.
Apesar de todos os dados suspeitos que têm surgido ao longo dos últimos dias, Francisca continua desaparecida e do seu paradeiro, segundo a PJ, não há pistas.
A imigrante brasileira, que trabalha como cozinheira num restaurante do Tabuaço, desapareceu na noite do dia 20 de junho, depois de ser vista, em pijama, a ir despejar o lixo doméstico.
Tudo indica que o seu desaparecimento não tenha sido voluntário, uma vez que deixou luzes acesas e televisão ligada, assim como os documentos em casa.
Além disso, Francisca tinha passagem marcada para ir ao Brasil, visitar a família, e já tinha, inclusive, pedido um mês de férias aos patrões.
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