Segundo disse à Lusa Kedy Santos, deputado municipal pela CDU na Câmara de Loures, a situação no bairro mantém-se "inalterada" e "não houve solução nenhuma" para as pessoas que permanecem no bairro.
"A situação é de frustração" entre quem ficou sem teto, acrescenta o também elemento do movimento Vida Justa, que tem prestado apoio aos moradores do Talude Militar.
Os trabalhos de limpeza foram hoje suspensos, quer por parte dos serviços públicos, quer por parte dos voluntários, que no sábado passaram o dia no bairro.
O Vida Justa deverá voltar a fazer um apelo de colaboração semelhante para o próximo sábado.
Entretanto, moradores e ativistas realizaram um plenário para prepararem as próximas ações, tendo decidido que farão uma ação pública no dia 30, adiantou Kedy Santos.
Uma das propostas em cima da mesa é a entrega da carta aberta "Parar os despejos e resolver a situação da habitação" no edifício onde se reúne o Conselho de Ministros, em Lisboa.
Isto porque o Vida Justa quer vincar que o problema da habitação não se limita às autarquias e tem de envolver o governo central, defendendo a criação de "um programa nacional de emergência habitacional".
A carta aberta lançada pelo Vida Justa na quarta-feira já recolheu mais de três mil assinaturas individuais e o apoio de mais de uma centena de associações e coletivos.
Kedy Santos realçou também que a campanha de recolha de donativos para os moradores do Talude Militar "superou as expectativas", tanto em bens materiais como financeiros.
"No ponto Talude não temos mais capacidade [para receber donativos], mas disponibilizaram-nos um armazém", relatou, adiantando que o movimento admite fazer distribuição "noutros contextos que têm necessidade".
Positivo é também o balanço da operação de limpeza que no sábado contou com cinco dezenas de voluntários no Talude Militar, a que se acabariam por juntar, mobilizados na véspera pela autarquia de Loures, 40 técnicos, munidos de máquinas e viaturas de apoio para recolha do muito entulho que ficou no bairro após as demolições.
Loures iniciou na segunda-feira uma operação de demolição de 64 casas, onde viviam 161 pessoas, tendo sido demolidas 51 no primeiro dia e outras quatro no segundo.
A operação foi entretanto suspensa após o despacho de um tribunal de Lisboa, na sequência de uma providência cautelar interposta por 14 moradores.
A autarquia de Loures (liderada pelo socialista Ricardo Leão) "não acautelou todas as situações" antes de mandar demolir as habitações precárias, critica o deputado municipal Kedy Santos.
E agora também não está a responder como deveria: "Há um conjunto de equipamentos que a câmara poderia colocar à disposição, podia ceder pavilhões, ginásios, para albergar esta pessoas, nesta situação de emergência, até encontrarem uma solução."´
Com a ajuda do Vida Justa e de associações locais foram instalados pontos de higiene junto ao bairro.
"Durante a semana será mais complicado, porque as pessoas saem para trabalhar e muitas vezes chegam quando já não há luz", antecipa Kedy Santos.
"Mesmo as pessoas que estão em pensões [alojadas pela autarquia] deixam as crianças no bairro, porque não têm quem tome conta delas enquanto vão trabalhar", nota o deputado municipal.
Das 55 famílias que ocupavam as construções precárias demolidas esta semana, 14 estão a receber apoio da Câmara Municipal de Loures, que disse ter atendido 38 dos agregados até sexta-feira.
Segundo informações da autarquia, outras 14 famílias encontraram alternativa habitacional junto de familiares ou amigos, três recusaram o apoio e sete não manifestaram interesse nas soluções apresentadas.
De acordo com os últimos dados disponibilizados, três famílias, com cinco menores a cargo, continuam com apoio de pernoita e dez famílias, com 21 menores a cargo, encontram-se a receber apoio alimentar.
Cinco famílias conseguiram aceder ao mercado de arrendamento, tendo beneficiado do apoio municipal para o pagamento da caução e do primeiro mês de renda, acrescenta a autarquia.
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