Indústria têxtil do Bangladesh sob pressão de taxas dos EUA

A indústria têxtil do Bangladesh enfrenta tarifas punitivas dos EUA, seu principal cliente, num momento de crise política interna, agravando a instabilidade e ameaçando o setor mais estratégico da economia do país asiático.

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Lusa
20/07/2025 13:33 ‧ há 3 horas por Lusa

Mundo

Tarifas

Esta dupla pressão gerou uma enorme incerteza no setor, mas, ao mesmo tempo, poderá criar oportunidades inesperadas para os grandes compradores europeus, entre os quais se destacam os grupos espanhóis Inditex e Mango, explicaram fontes do setor à EFE.

 

A União Europeia é o principal destino das exportações têxteis do Bangladesh, com importações que em 2024 rondaram os 20 mil milhões de dólares, de acordo com dados oficiais. Dentro do bloco europeu, Espanha desempenha um papel de destaque, com compras superiores a 3.600 milhões de dólares no último ano. Empresas como a Inditex, que trabalha com cerca de 250 fábricas no país asiático, são peças-chave na economia bengali.

Segundo líderes industriais em Daca, uma possível redireção da produção destinada ao mercado norte-americano para a Europa poderá "desencadear uma guerra de preços entre os fabricantes, colocando os grandes compradores espanhóis numa posição de força para negociar custos em baixa", declarou uma fonte da indústria.

A crise agravou-se no início de julho, quando a Administração de Trump anunciou a aplicação de uma tarifa adicional de 35% a todos os produtos provenientes do Bangladesh, com entrada em vigor a 01 de agosto.

"Se estes 35% se somarem aos 15%-16% já existentes, a tarifa média sobre as importações [...] para os Estados Unidos será superior a 50%", explicou Zahid Hussain, antigo economista-chefe do Banco Mundial em Daca.

A medida coloca o Bangladesh em clara desvantagem face ao seu principal concorrente regional, o Vietname, que negociou com Washington uma tarifa fixa de 20%.

A justificação oficial dos EUA --- a correção do défice comercial --- tem sido alvo de críticas por parte de Daca. "O nosso défice comercial com os EUA é de apenas cerca de 6.200 milhões de dólares, enquanto o do Vietname é de 125.000 milhões. Não há justificação para nos imporem uma tarifa tão alta", afirmou recentemente o conselheiro de Finanças, Salehuddin Ahmed.

Além das motivações económicas, há também fatores geopolíticos em jogo. "Os EUA querem aprofundar o seu envolvimento estratégico com o Bangladesh, principalmente para garantir que o país não se incline demasiado para a China", revelou um líder empresarial sob anonimato. Segundo estas fontes, Washington pretende que Daca reduza a sua dependência comercial e militar de Pequim e avance para acordos de cooperação em matéria de defesa com os Estados Unidos.

Internamente, o Bangladesh é atualmente governado por um executivo tecnocrático interino, liderado pelo prémio Nobel Muhammad Yunus, após um período de forte instabilidade política. Esta transição política torna as negociações mais incertas, já que os interlocutores em Washington estão a lidar com uma administração não eleita e com mandato temporário.

A instabilidade torna o país um parceiro comercial frágil, o que enfraquece a sua posição face aos EUA e aumenta a pressão sobre o setor têxtil para garantir as encomendas vindas da Europa, segundo fontes industriais.

Face à ameaça tarifária, empresas norte-americanas como a Walmart já começaram a suspender encomendas, e estima-se que as exportações de vestuário para os EUA possam cair até 60% caso a medida entre em vigor.

"Esperamos que os EUA fixem as tarifas a um nível racional", declarou o conselheiro de Comércio, Sheikh Bashir Uddin, após a mais recente ronda negocial, realizada na semana passada.

Como contrapartida, o governo de Daca colocou em cima da mesa a possibilidade de aumentar as importações de produtos norte-americanos.

Com a data de 01 de agosto a aproximar-se, as negociações decorrem sob elevada tensão em Washington. Em causa está uma peça essencial da cadeia global de abastecimento da moda --- uma indústria que veste milhões de consumidores no Ocidente.

Leia Também: EUA impõem atualmente taxa de 53,6% à China

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