O relatório 'O Estado da Pobreza', apresentado hoje pela Rede de Luta Contra a Pobreza e a Exclusão Social no Estado Espanhol (EAPN-ES), faz uma análise anual dos dados oficiais do Inquérito sobre as Condições de Vida do Instituto Nacional de Estatística de Espanha.
Segundo o documento, o risco de pobreza e exclusão social em Espanha diminuiu globalmente no último ano, de 26,5% para 25,8% da população, menos 200 mil pessoas e o número mais baixo desde 2014.
Para a EAPN-ES, é uma redução importante e resulta de uma aposta dos últimos anos em políticas sociais, mas a organização sublinhou que a taxa ainda supera os 25% e que não se registaram melhorias nos grupos mais vulneráveis.
"As medidas que melhoraram a situação a nível geral não chegaram precisamente às pessoas mais vulneráveis, às pessoas que mais precisam", o que torna crónica a sua situação e dificulta a possibilidade de saírem da pobreza, afirmou o presidente da EAPN-ES, Carlos Susías.
A EAPN-ES sublinhou que o número de pessoas em situação de pobreza severa em Espanha se manteve em 2024, quando 4,1 milhões viviam em lares com rendimentos mensais inferiores a 644 euros "por unidade de consumo" (um indicador que resulta da divisão de um rendimento pelo número de pessoas da família, seguindo critérios diferentes em função da idade, por exemplo).
Na apresentação do relatório, a EAPN-ES manifestou ainda preocupação com "a alarmante" taxa de pobreza infantil em Espanha, desde há anos uma das mais altas da União Europeia (UE). Segundo os dados oficiais, há 2,3 milhões de crianças e adolescentes pobres no país.
O documento hoje apresentado em Madrid revela que a melhoria nos indicadores de pobreza em 2024 foi desigual, já que, por exemplo, aumentaram as disparidades a nível de género e piorou a situação da população migrante, com mais de metade a estar em risco de pobreza ou de exclusão social.
Por outro lado, três em cada dez pessoas que vivem em lares com menores estão em risco de pobreza ou de exclusão social, com o relatório a chamar a atenção para as famílias monoparentais, que em 50,3% dos casos vivem em risco de pobreza, e para as famílias numerosas (49,1%).
O relatório conclui que o preço da habitação é um fator de empobrecimento e desigualdade para grande parte da população espanhola: a despesa com a casa representa mais de um terço do rendimento das pessoas pobres (25,5%), que ficam, em média, com 333 euros disponíveis para gastar num mês depois de pagarem a renda da casa e com 370 depois de pagarem o empréstimo à habitação ao banco.
"Temos de olhar para o que está a acontecer com a habitação porque é um elemento que está a provocar o empobrecimento de famílias que teoricamente não deveriam estar em situação de pobreza", afirmou Carlos Susías.
Quanto à pobreza infantil, a EAPN-ES apelou às autoridades espanholas para adotarem medidas urgentes e estruturais, seguindo casos como o da Bulgária, Grécia ou Roménia, que desde 2015 conseguiram reduzir as respetivas taxas, enquanto em Espanha se mantém constante.
Leia Também: Portugal tem quase 1,8 milhões de pobres (e 15 mil já dormiram na rua)