Presidente da Cáritas Ucrânia diz que medo pela segurança "renasceu"

A presidente da Cáritas Ucrânia, Tatiana Stawnychy, considerou que a intensificação dos ataques russos nos últimos meses fez renascer os medos tidos do início da guerra e sublinhou que o país ainda precisa de compaixão e solidariedade.

Entrevista à presidente da Cáritas Ucrânia, Tetiana Stawnychy

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Lusa
04/06/2025 06:51 ‧ há 2 dias por Lusa

Mundo

Guerra

 "Há enxames de drones a atacar os civis quase todas as noites", descreveu a responsável, em entrevista à Lusa, referindo que a Rússia costumava enviar 300 ou 400 drones por mês e passou a atacar com mais de 4.000.

 

"Ironicamente, diria que o maior medo e preocupação que tive no início da invasão em grande escala, que era com a segurança da nossa equipa e de toda a Cáritas local, é uma das minhas maiores preocupações hoje", admitiu Tatiana Stawnychy.

Por isso, apesar de entender que as negociações que decorreram no dia 16 e na segunda-feira, em Istambul, entre representantes de Moscovo e de Kyiv tenham passado a ser o foco das atenções internacionais, a presidente da Cáritas lembrou que a Ucrânia ainda precisa de muita solidariedade.

"Há um apelo da Ucrânia em curso para que continuem a caminhar connosco, para que vejam o que está a acontecer, não só politicamente, nas discussões, mas também no terreno na Ucrânia, para que estejam conscientes disso, para que ofereçam orações pelos ucranianos que sofrem diariamente e, sempre que possível, para que se solidarizem connosco", pediu.

A rede Cáritas faz "um apelo de emergência para as atividades de resposta humanitária mais difíceis, e é possível dar um contributo através da Cáritas Portugal", acrescentou.

O trabalho mais difícil da organização decorre sobretudo na zona leste do país, mais próxima da frente com a Rússia, onde tenta ajudar principalmente "as pessoas muito vulneráveis, as crianças e as jovens mães".

No leste, é preciso primeiro ajudar as pessoas a saírem da zona e, depois, "ajudar os recém-desalojados a reinstalarem-se em algum lugar", adiantou a presidente da organização.

Um objetivo que é especialmente difícil quando se trata dos mais idosos.

"São os últimos, os que ficaram mais tempo [na zona leste], porque são muito apegados às suas casas, especialmente nas zonas rurais", explicou.

Noutras partes do país, a assistência humanitária passa pelos centros de crise: "tentamos que pessoas se adaptem à nova comunidade de acolhimento, ajudando com apoio psicológico, com a documentação, a ter acesso a cuidados de saúde, a instalar os filhos nas escolas".

E também "a encontrar uma solução, pelo menos a médio prazo, para um abrigo, uma casa onde possam viver", passando ainda a reintegração dos deslocados por tentar que voltem a trabalhar.

"A ideia é envolver as pessoas e ajudá-las a reerguerem-se e a sair da crise", sublinhou Tatiana Stawnychy, referindo que a Cáritas criou um programa chamado 'Programação de Meios de Subsistência' para que todos consigam encontrar empregos na comunidade local, começando pelo trabalho comunitário.

"Isto geralmente é temporário", mas depois permite que as pessoas consigam empregos em empresas locais", disse, adiantando que a taxa de retenção nas empresas destes deslocados é grande.

Por outro lado, a organização também incentiva o desenvolvimento de pequenos negócios.

"Trabalhamos com micro e pequenas empresas, com pessoas que talvez tivessem um negócio na zona leste do país, de onde tiveram de fugir e perderam tudo. Fazemos uma pequena formação de reciclagem e temos subsídios que podemos oferecer às pessoas", explicou.

Subsídios que também abrangem a agricultura para permitir que as pessoas deslocadas tenham segurança alimentar, prosseguiu.

Com três anos de guerra decorridos, uma das partes mais importantes da ajuda aos ucranianos é, sem dúvida, a psicológica, reconheceu a responsável, com as questões de saúde mental no topo das preocupações da sociedade civil e do Governo.

"A primeira-dama iniciou um programa em que falamos uns com os outros para perguntar como estamos realmente e acho que este programa se vai desenvolver muito", disse.

"Há muitas pessoas com ansiedade e trauma generalizados por causa da guerra", referiu, admitindo que nas zonas da linha da frente, o problema é "mais extremo", mas "todas as regiões da Ucrânia são afetadas".

Embora o apoio tenha um foco especial nos idosos, nas pessoas com necessidades especiais e nas crianças de famílias vulneráveis, Tatiana Stawnychy assegurou que o problema é abrangente e a crescer.

"Eu diria que o país inteiro está a lidar com um trauma coletivo", declarou, confirmando que questões como o alcoolismo e o uso de drogas estão a aumentar.

"Temos um centro de reabilitação e tratamento de toxicodependência, que está muito ativo neste momento, e penso que isso vai acontecer mais daqui para a frente, com os veteranos a regressarem a casa", indicou, esclarecendo tratarem-se de mecanismos para enfrentar os traumas.

Por isso, a Ucrânia está a apostar fortemente em formar psicólogos, anunciou.

Na Cáritas, existem 150 psicólogos na rede, "com os quais trabalhamos constantemente para aumentar a capacidade e qualificação, para que possamos dar resposta às necessidades presentes em cada uma das comunidades", referiu.

Por outro lado, a organização tenta também "reerguer as crianças", que vivem, desde muito cedo -- ou desde sempre -, desestabilizadas por uma guerra.

Uma das formas de ajuda é através de "um programa chamado 'Espaços Amigos dos Bebés', onde se tenta estabilizar crianças e pais nas comunidades locais.

"É como um centro comunitário onde fazemos diferentes tipos de arte-terapia e ensinamos as tradições locais", descreveu. Aqui, também se tenta fomentar a interação entre crianças e jovens locais "para que socializem, já que muitos só têm aulas 'online' desde o início da covid-19".

"Há uma grande necessidade de espaços onde as crianças se possam encontrar e socializar, e também trabalhar na sua educação" porque "a educação 'online' não é tão forte como a presencial", indicou, acrescentando ainda que a organização aposta muito no reforço de competências de diálogo.

"Quando se está sob ataque, isso destrói a compreensão das relações e a capacidade de diálogo, por isso, é muito importante trabalhar no desenvolvimento de competências de diálogo para nos compreendermos, para sermos capazes de nos ouvirmos e compreendermos as experiências uns dos outros", concluiu.

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