"Mas onde é que está a liderança europeia? Eu gostaria muito de ter um líder na Europa que, perante os massacres em Gaza, diga 'não'", afirmou, num discurso durante a abertura da conferência Ibrahim Governance Weekend (IGW), em Marraquexe.
Segundo o antigo chefe da diplomacia europeia, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu "é um líder está a conduzir o seu país a cometer crimes de guerra tão horríveis ou ainda mais horríveis do que aqueles cometidos pelo Hamas".
"E a Europa mantém-se calada", lamentou.
"Eu gostaria de ter uma liderança europeia que fosse capaz de dizer: não, não é possível. Sim, nós matámos judeus há vários anos atrás, mas isso não dá razão aos israelitas para matar milhares e milhares de crianças palestinianas que não são culpadas", vincou.
O presidente do Conselho Europeu, António Costa, considerou na quarta-feira que "a autoridade moral de Israel está a desaparecer" e que já não existem justificações de legítima defesa.
Em entrevista exclusiva à TV Globo, durante uma visita ao Brasil, António Costa afirmou que "a autoridade moral de Israel está a desaparecer, porque o que justificou a sua legítima defesa já não está mais justificado".
É "simplesmente um ataque massivo a populações civis indefesas sem nenhuma justificativa", disse.
Também a sucessora de Borrell, Kaja Kallas, afirmou esta semana que a situação humanitária em Gaza "continua a ser intolerável", acusando Israel de ataques contra civis que "vão para além do que é necessário".
A posição da chefe da diplomacia da UE surgiu um dia após a presidente da Comissão Europeia ter instado Israel a levantar o "bloqueio severo" de ajuda humanitária em Gaza, que entrou na 11.ª semana, condenando também a "escalada e o uso desproporcionado da força" israelita, embora falando em "autodefesa".
Ursula von der Leyen tem enfrentado sérias críticas na UE pela sua posição face ao conflito em Gaza, especialmente devido à sua resposta inicial considerada parcial e ao seu silêncio perante alegadas violações do direito internacional por parte de Israel.
Outros líderes da UE têm condenado a situação humanitária em Gaza, causada pelos entraves israelitas à ajuda humanitária e aos constantes bombardeamentos das forças de Israel, que já mataram milhares de civis.
A guerra eclodiu em Gaza após um ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita, em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
Após o ataque do Hamas, Israel desencadeou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que já provocou quase 54 mil mortos, na maioria civis, e um desastre humanitário, desestabilizando toda a região do Médio Oriente.
Borrell encontra-se em Marraquexe para participar no IGW 2025, a decorrer entre 01 e 03 de junho, sob o tema "Alavancar os recursos de África para colmatar o défice financeiro".
Políticos, académicos e ativistas vão debater como podem os países africanos mobilizar-se para acelerar o desenvolvimento social e económico num contexto internacional de declínio da ajuda externa.
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