Segundo a Câmara Municipal de Almada (CMA), no distrito de Setúbal, este projeto desenvolve-se a partir do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, em Luanda --- também conhecido como Maria da Fonte ---, uma estátua erguida em 1937, que se destacou como uma das maiores construções da presença portuguesa em África.
"O monumento foi dinamitado em 1976, um ano após a independência de Angola, resultando na dispersão de grandes blocos de pedra esculpida, embora o pedestal original tenha permanecido intacto", lembrou a autarquia, em comunicado.
Kiluanji Kia Henda cria uma série de colagens digitais a partir de imagens documentais dos fragmentos do monumento e dos soldados angolanos e cubanos que participaram na sua destruição, que dão origem a um conjunto de oito posters de bandas musicais fictícias, impressos em escala monumental.
No centro da piscina principal está instalada a obra "O Som é o Monumento" --- um plinto geométrico que reinterpreta a forma de um pedestal, transformando-o numa caixa acústica.
A autarquia explica que esta estrutura é utilizada para a difusão de um repertório de músicas angolanas, que constroem contranarrativas sonoras ao discurso colonial e imperialista, afirmando a música como veículo de memória, identidade e insurgência cultural.
"Através desta operação estética e simbólica, o artista ressignifica os escombros do passado como matéria de invenção e resistência, propondo uma reflexão crítica sobre novas formas de celebrar e reinscrever a memória no espaço público, onde o som --- a música --- assume o lugar de monumento", adianta a CMA.
A exposição fica patente até 15 de novembro de quinta a sábado, 14:00 às 18:00.
Segundo a Câmara Municipal de Almada, Kiluanji Kia Henda é um artista multidisciplinar, que vive e trabalha em Luanda, com uma prática artística centrada na arte como instrumento de transmissão e reconstrução histórica, através de diversos meios --- como a fotografia, o vídeo, a performance, a instalação, a esculturaobjeto, a música e o teatro de vanguarda.
Kiluanji Kia Henda é também cofundador da KinoYetu, uma associação sediada em Luanda dedicada à promoção das artes, com especial ênfase no cinema.
O trabalho de Kiluanji Kia Henda tem sido incluído ou comissariado por diversas instituições e eventos de prestígio a nível internacional.
O seu projeto "Plantação", constituído por centena de canas-de-açúcar em alumínio, o "ouro branco" que esteve nas origens do tráfico de pessoas escravizadas, foi escolhido como Memorial às Pessoas Escravizadas a instalar em Lisboa, no âmbito do Orçamento Participativo de 2017.
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